sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Poetando




Infância!




Quero voltar à infância,
ao tempo da inocência, da simplicidade,
da fantasia, dos desejos, e das vontades!
Quero encontrar de novo a criança que fui,
os caminhos que andei e os sabores que experimentei!
Quero correr descalça, tomar banho de chuva,
andar na enxurrada, subir em árvores, contar estrelas!
Quero ouvir som de pássaros, andar à cavalo,
brincar de casinha, de roda, pique-esconde,
gute-gute e pega-ladrão!
Quero reencontrar meus amigos,
meus brinquedos velhos, meus livros antigos,
meu primeiro violão e, ao entardecer,
cantar uma canção!
Quero sentir cheiro de fruta madura,
colher todas elas e guardar tudo junto,
sonhos, risadas, mangas e goiabas!
Quero dormir cedo com barulho de chuva,
acordar de madrugada com medo de trovão,
nadar no córrego, brincar de peão,
contar meus segredos e ver meus retratos!
Quero voltar ao primeiro dia na escola,
reencontrar meus cadernos,
minha borracha, meu lápis preto, e
redescobrir as letras que formam palavras,
contam estórias e guardam memórias!
Quero visitar meus avós,
meus tios tão simples, minhas tias gentis,
o meu lugar secreto, onde plantei os meus sonhos,
escondi os meus medos e guardei meus segredos!
Quero reencontrar a esperança, o olhar inocente,
sentir dor de dente e ter medo de tudo!
Quero voltar ao passado, entender o presente,
e acreditar no futuro. E depois...
guardar na memória, em livros e fotos
todas as estórias da criança que fui!
By Naildir
Edmonton, Janeiro, 29, 2009.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Ainda sobre estórias e memórias!



“A memória é uma janela para a vida.” William Zinsser.

Gostaria de registrar meu prazer em ler este autor. Fiquei encantada com o capítulo “writing and remebering”, escrito por William Zinsser, no livro, “Inventing the Truth: The Art and Craft of Memoir.” Além de Zinsser, o livro tem mais cinco autores. Gostei muito da metáfora da memória como uma janela! Segundo Zinsser a memória coloca a vida em perspectiva, não somente para o escritor mas, para todos nós. Ele diz ainda que o ego está no coração de todas as razões porque alguém escreve uma memória, se é um livro, ou um panfleto ou uma carta para nossas crianças. A memória é uma forma de validar a vida. Continuando, o autor diz que o escritor de uma memória precisa tornar-se editor da sua própria vida. Ele precisa cortar e podar uma estória difícil e dar a ela uma forma narrativa. Fico cada vez mais encantada com o poder da narrativa de nossas memórias, e de nossas experiências, como forma de entender quem somos, onde estamos e para onde estamos indo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre amizade e esperança!


About Friendship and Hope!

I knew a person, a different person!
She does not think only in herself
She is lovely and friendly
And has a beautiful smile!
For many days I could stay with her!
Together we could smile and cry.
Inquiring ourselves we shared
Our experiences, our dreams,
Our fears and our lives!
I have learned a lot with her
Her name is Hope!
Hope is her name, hope is her life!
Hope is what moves her, each day, every time!
Hope is in her eyes, in her heart, and in her smile!
Hope is in her hands and also in her mind!
Now, what am I going to do?
I cannot live without Hope anymore!
Fortunately, I have learned that Hope cannot live alone
Hope needs the others to be stronger and happier!
Now we are friends and all I would like to say is:
I will be always here with my friendship and my affection!
Come on, Hope! Look to the future!
There are so many people waiting for us!
Maybe together we can help them to find
More hope, more life and more peace!

By Naildir
I wrote this poem to Lenora LeMay, a special person that taught me to see the Hope with new eyes!
Edmonton, Nov. 28, 2008.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Como nasce uma história!

Fernando Sabino

Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.— Sétimo — pedi. Eu estava sendo aguardado no auditório, onde faria uma palestra. Eram as secretárias daquela companhia que celebravam o Dia da Secretária e que, desvanecedoramente para mim, haviam-me incluído entre as celebrações.
A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção se fixou num aviso que dizia:

É expressamente proibido os funcionários, no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.

Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de problema complicado, este do infinito pessoal. Prevaleciam então duas regras mestras que deveriam ser rigorosamente obedecidas, quando se tratava do uso deste traiçoeiro tempo de verbo. O diabo é que as duas não se complementavam: ao contrário, em certos casos francamente se contradiziam. Uma afirmava que o sujeito, sendo o mesmo, impedia que o verbo se flexionasse. Da outra infelizmente já não me lembrava. Bastava a primeira para me assegurar de que, no caso, havia um clamoroso erro de concordância.

Mas não foi o emprego pouco castiço do infinito pessoal que me intrigou no tal aviso: foi estar ele concebido de maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor que se preza. Ah, aquela cozinheira a que se refere García Márquez, que tinha redação própria! Quantas vezes clamei, como ele, por alguém que me pudesse valer nos momentos de aperto, qual seja o de redigir um telegrama de felicitações. Ou um simples aviso como este:

É expressamente proibido os funcionários...

Eu já começaria por tropeçar na regência, teria de consultar o dicionário de verbos e regimes: não seria aos funcionários? E nem chegaria a contestar a validade de uma proibição cujo aviso se localizava dentro do elevador e não do lado de fora: só seria lido pelos funcionários que já houvessem entrado e portanto incorrido na proibição de pretender descer quando o elevador estivesse subindo. Contestaria antes a maneira ambígua pela qual isto era expresso:. . . no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.

Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, entenderia o que se pretende dizer neste aviso. Pois um tijolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com que eu ficasse revirando a frase na cabeça: descerem, no ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma simples e correta de formular a proibição: É proibido subir para depois descer. É proibido subir no elevador com intenção de descer. É proibido ficar no elevador com intenção de descer, quando ele estiver subindo.
Descer quando estiver subindo!

Que coisa difícil, meu Deus. Quem quiser que experimente, para ver só. Tem de ser bem simples: Se quiser descer, não torne o elevador que esteja subindo. Mais simples ainda: Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo.
De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, ou seja, a enunciação de algo que não quer dizer absolutamente nada:

Se quiser descer, não suba.

Tinha de me reconhecer derrotado, o que era vergonhoso para um escritor. Foi quando me dei conta de que o elevador havia passado do sétimo andar, a que me destinava, já estávamos pelas alturas do décimo terceiro.
— Pedi o sétimo, o senhor não parou! — reclamei.
O ascensorista protestou:— Fiquei parado um tempão, o senhor não desceu.
Os outros passageiros riram:— Ele parou sim. Você estava aí distraído.
— Falei três vezes, sétimo! sétimo! sétimo!, e o senhor nem se mexeu — reafirmou o ascensorista.
— Estava lendo isto aqui — respondi idiotamente, apontando o aviso.
Ele abriu a porta do décimo quarto, os demais passageiros saíram.
— Convém o senhor sair também e descer noutro elevador. A não ser que queira ir até o último andar e na volta descer parando até o sétimo.

— Não é proibido descer no que está subindo? Ele riu:— Então desce num que está descendo.
— Este vai subir mais?

— protestei: — Lá embaixo está escrito que este elevador vem só até o décimo quarto.

— Para subir. Para descer, sobe até o último.
— Para descer sobe?
Eu me sentia um completo mentecapto. Saltei ali mesmo, como ele sugeria. Seguindo seu conselho, pressionei o botão, passando a aguardar um elevador que estivesse descendo. Que tardou, e muito.
Quando finalmente chegou, só reparei que era o mesmo pela cara do ascensorista, recebendo-me a rir:
— O senhor ainda está por aqui? E fomos descendo, com parada em andar por andar.

Cheguei ao auditório com 15 minutos de atraso. Ao fim da palestra, as moças me fizeram perguntas, e uma delas quis saber como nascem as minhas histórias. Comecei a contar:

— Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.

Fernando Sabino tem a capacidade de retirar de fatos mais corriqueiros excelentes histórias. Confirmem com esta que ora apresentamos, extraída do livro "A Volta Por Cima", Editora Record - Rio de Janeiro, 1990, pág. 137.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Onde é o meu lar?

Meu Lar É Onde Estão Meus Sapatos
Composição: Sá e Guarabira

Esta música me lembra que não somos cidadãos desta pátria...que devemos fazer diferença onde quer que estejamos...


Desde que me conheço Desde que me conheço
Que sou assim mas não, não, não ria de mim,
Amigo de novidades sem ambição ou raiz
Mas isso não me faz infeliz

A gente tem que saber ser dono do seu destino
Partir se tem que parti ficar se tem que ficar
Meu lar é onde estão meus sapatos
Meu lar é onde estão meus sapatos
Um pouco em cada pedaço e lugar

Mas basta que você diga basta que você diga
Uma só palavra pra mim que sim, sim, sim.
E logo você vai ver que eu cheguei
pra não mais sair e vim, vim, vim.

A gente tem que saber ser dono do seu destino
Partir se tem que parti ficar se tem que ficar
Meu lar é onde estão meus sapatos
Meu lar é onde estão meus sapatos
Um pouco em cada pedaço e lugar

sábado, 17 de janeiro de 2009

Águias ou Urubus?

A águia possui oito vezes mais células visuais por centímetro cúbico do que o ser humano. Voando à altura de duzentos metros, a águia consegue detectar um objeto do tamanho de uma moeda movimentando-se na grama de quinze centímetros de altura. A águia pode enxergar um peixe de oito centímetros saltando num lago, a oito quilômetros de distância. As pessoas que tem visão de águia conseguem enxergar o que a maioria não vê. Nunca vi uma águia voando com um urubu. Ambos são aves. Mas são de outra estirpe, de outra plumagem. Os urubus voam baixo, aceitam qualquer tipo de presa, preferivelmente as mortas. Não são tão seletivos, aceitam qualquer coisa. Gosto deles. Considero-os como faxineiros de Deus. Faz parte do equilíbrio ecológico. Mas águias não voam com urubus. Por que? ALTITUDE. Os urubus não conseguem subir às alturas das águias. Elas não descem, eles não sobem. Portanto, não podem voar juntos. Gostaria de encorajá-lo a não descer...Às vezes somos chamados a descer, baixar o padrão, mudar a rota, deixar princípios. Voar raso...é uma atitude de urubu.
NÃO ACEITE!! ERGA SEUS OLHOS E OLHE MAIS ALTO. PARA A DIMENSÃO DAS ÁGUIAS. É MELHOR PERDER A PRESA DO QUE SER PRESO POR UM LAÇO FÁCIL. AVES DE PLUMAGEM DIFERENTE NÃO VOAM JUNTAS. Pense nisso...
(Extraído)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Saindo do Casulo!



Precisamos sair do casulo se quisermos vislumbrar uma nova perspectiva em nossas vidas. Hoje, por preguiça de enfrentar o frio, quase perdi um espetáculo! Acordei meio “down” e desanimada! De dentro de casa não pude ver como estava o dia lá fora, embora soubesse que estava frio! Fiquei surpresa quando decidi caminhar um pouco esta tarde e me deparei com um lindo espetáculo. O sol, apesar do frio, estava brilhando e me encantei com o reflexo do sol na neve! O dia estava lindo! Era como se tivessem espalhado diamantes pelas ruas! Por pouco eu perderia a beleza desta tarde ensolarada! Fiquei imaginando que, se quisermos ter novas perspectivas em nossas vidas, precisamos sair dos diferentes casulos do medo, do comodismo, da preguiça e dar um passo à frente! Louvei a Deus o privilégio de poder viver e ver este momento e pude voltar pra casa com minhas expectativas renovadas. Fiquei feliz em perceber que lá fora, apesar de tudo, existe uma beleza inexplicável! Existe brilho, sol, vida e acima de tudo... esperança!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Lendo e aprendendo!

Acabei de ler o livro: “Narrative Inquiry: experiênce and story in qualitative research” de Clandinin & Connelly. Sem dúvida o livro é fundamental para os “noviços” em pesquisa narrativa, como eu, por exemplo. Há muito o que entender, o que aprender e apreender no mundo da pesquisa narrativa. Tenho certeza que um pesquisador narrativo não nasce de um dia para o outro. Há todo um processo de construção, de apropriação em torno do fazer “narrative inquiry” e de ser um “narrative inquirer”. De fato, o livro não define a pesquisa narrativa, no entanto ele favorece a criação de um conceito pelo leitor, uma vez que contextualmente o livro conta e reconta o que os pesquisadores narrativos fazem. Para mim este livro é como um mapa que orienta minha jornada rumo à compreensão da pesquisa narrativa enquanto método e fenômeno.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Quando a escola é de vidro!



Quando a Escola é de vidro!
Ruth Rocha


Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.É, no vidro!Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!O vidro dependia da classe em que a gente estudava.Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano.Se não passasse de ano era um horror.Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse.
Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até batiam no professor. Ele ficava louco da vida e atarrachava a tampa com força, que era pra não sair mais. A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...
As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos. Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se respiravam direito... A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.
As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio e na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinha jeito nenhum para Educação Física.Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa. E alguns meninos também.Estes eram os mais tristes de todos. Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza! Se agente reclamava? Alguns reclamavam. E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura. Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade. Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior... Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.Aí não tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo... Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro. O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado... E os professores não gostavam nada disso...Afinal, o Firuli podia ser um mal exemplo pra nós... E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso. Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.
Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos? Mas Dona Demência não era sopa. Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...Já no outro dia a coisa tinha engrossado.Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros. Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola. Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo! A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli. E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar as meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros.
Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro - já tinha dois fora.E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais dona Demência já estava na janela gritando - SOCORRO! VÂNDALOS! BÀRBAROS! (pra ela bárbaro era xingação). Chamem o Bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina...
Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo. E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros. Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar. Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.
Então diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais. E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental. Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...Seu Hermenegildo não se pertubou:- Não tem importância. Agente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Me ajuda a olhar!


"Pai, me ajuda a olhar! "


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!”


Eduardo Galeano, in “O livro dos abraços”