terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O poder da escola:

"As crianças são pequenos pesquisadores que experimentam e buscam respostas para as muitas perguntas que fazem sobre este mundo ainda tão cheio de mistérios. Constroem e reconstroem teses sobre o funcionamento dele, da natureza e da vida. Sentem-se livres e entusiasmadas para questionar, argumentar e experimentar todas as coisas que estão a sua volta.
Este pesquisador curioso não para, não se contenta com os objetos que estão próximos dele, vai além e viaja. Ao dominar a palavra, enriquece seus pensamentos e alça vôo no mundo das idéias. Se antes brincava com seus brinquedos, agora brinca também com palavras.
Rubem Alves dá um exemplo ao falar de sua neta Mariane e sua experiência com as bolinhas, palavra pela qual ela identifica a bola de gude, a ervilha, a lua e as estrelas. Ele diz que ela aprendeu a brincar com as palavras, a fazer o que os poetas fazem, metáfora.
Ao ingressar na escola, as crianças e seus pais pensam que elas irão progredir, do não conhecimento para a aquisição do conhecimento que é tão valorizado pela sociedade. A criança que é livre para conhecer, criar, brincar com objetos e que se diverte com suas fantasias, ao adentrar na escola é convidada a deixar todas estas capacidades do lado de fora das salas de aula. Inicia-se assim o processo de padronização, todas as crianças serão educadas para agir, falar, escrever e até pensar igual.
Não há mais tempo para exploração, brincadeiras, o aprender com prazer. Os alunos devem passar pela tortura de repetir, copiar e decorar. Agora o aluno não segue mais seus interesses, pelo contrario, só faz aquilo que o professor mandar.
A criança perde toda sua autonomia criadora, fala frases feitas, decora conceitos que para ela nada significam e tem medo de ousar, pois o taxativo “certo e errado” a amedronta.
Na escola a criança “aprenderá” varias coisas, mas o mais importante não lhe será ensinado, o mais importante foi esquecido, a escola não ajuda o aluno desenvolver sua competência cognitiva, a de pensar. Ao invés disso são ensinadas respostas certas, para as quais não é necessário pensar, basta o exercício de memória. Quando consideramos a autonomia como objetivo educativo, lembramos que:
é preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar num regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e é demonstrar de forma autônoma. O pensamento supõe então o jogo livre das funções intelectuais e não o trabalho sob pressão e a repetição verbal (PIAGET, 1998).
Não podemos permitir que o professor detenha controle da conduta, das atitudes e do saber das crianças. Quando as crianças sofrem coerção dos adultos, numa relação de respeito unilateral, acabam acreditando que somente eles têm razão e suas afirmações são consideradas verdades. A autoridade adulta sobre o pensamento da criança não apenas prescinde de verificação racional, mas também retarda freqüentemente o esforço pessoal e o controle mútuo dos pesquisadores (PIAGET, 1998, p. 118)."


Autores: Ana Paula Salvador Werri e Adriano Rodrigues Ruiz in "Autonomia como objetivo na educação."

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